Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Dia 29 de leitura diária da Bíblia.
Hoje meditaremos nos capítulos 1, 2 e 3 do Evangelho de Mateus. Este Evangelho apresenta Jesus como o Rei prometido, o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e o Messias esperado por Israel.
Mateus escreve com uma forte ênfase judaica, conectando as Escrituras hebraicas ao ministério de Cristo.
Meu desejo é que você seja fortalecido(a) espiritualmente e encontre verdades transformadoras para todas as áreas da sua vida.
Vamos começar!
Superfície
Mateus 1: A Genealogia e o Nascimento de Jesus Cristo
O primeiro capítulo de Mateus começa com a genealogia de Jesus, demonstrando Sua linhagem real desde Abraão até Davi, e de Davi até José, esposo de Maria.
Essa linhagem estabelece o direito legal de Jesus ao trono de Davi. O capítulo também narra o nascimento de Cristo, enfatizando que Maria concebeu pelo Espírito Santo e que Jesus cumpriu a profecia de Isaías 7:14: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel, que significa Deus conosco”.
José, ao descobrir que Maria estava grávida, planejou deixá-la secretamente, mas um anjo lhe apareceu em sonho e revelou que o filho que Maria esperava era obra do Espírito Santo. José, então, obedeceu e tomou Maria como esposa.
Versículos-Chave:
- “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (1:1) – Afirma a identidade messiânica de Jesus.
- “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (1:21) – Declara a missão redentora de Cristo.
- “E eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel.” (1:23) – Cumprimento profético do Antigo Testamento.
- “José… fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher.” (1:24) – Demonstra a obediência de José.
- “Mas não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de JESUS.” (1:25) – O nascimento virginal de Cristo.
Promessa: Deus enviaria o Salvador ao mundo para libertar Seu povo dos pecados (1:21).
Mandamento: Confiar na direção de Deus, mesmo quando as circunstâncias parecem incertas (1:24).
Mateus 2: A Adoração dos Magos e a Fuga para o Egito
Este capítulo relata a visita dos magos do Oriente que seguiram uma estrela até Belém para adorar o recém-nascido Rei dos judeus.
Eles trouxeram presentes significativos: ouro (simbolizando realeza), incenso (simbolizando divindade) e mirra (prefigurando Seu sacrifício). A reação de Herodes, no entanto, foi hostil; ao saber do nascimento de Jesus, ordenou o massacre dos meninos de até dois anos em Belém, buscando eliminar a ameaça ao seu trono.
Um anjo advertiu José em sonho para fugir com Maria e Jesus para o Egito. Após a morte de Herodes, a família retornou e se estabeleceu em Nazaré, cumprindo mais profecias.
Versículos-Chave:
- “Pois do Oriente viemos para adorá-lo.” (2:2) – Os magos reconhecem a realeza de Jesus.
- “E tu, Belém… de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.” (2:6) – Cumprimento da profecia de Miquéias 5:2.
- “Então Herodes, vendo que tinha sido enganado… irou-se muito.” (2:16) – A fúria do mundo contra Cristo.
- “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito.” (2:13) – A proteção divina sobre Jesus.
- “E veio habitar numa cidade chamada Nazaré.” (2:23) – O cumprimento de mais uma profecia.
Promessa: Deus protege aqueles que cumprem Seu propósito, assim como preservou Jesus da ameaça de Herodes (2:13).
Mandamento: Buscar e adorar a Jesus com sinceridade, como os magos fizeram (2:11).
Mateus 3: O Ministério de João Batista e o Batismo de Jesus
Este capítulo apresenta João Batista, o precursor do Messias, pregando no deserto e chamando o povo ao arrependimento. João cita Isaías 40:3: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor”.
Ele batiza os que confessam seus pecados, preparando-os para a vinda de Cristo. João também confronta os fariseus e saduceus, denunciando sua hipocrisia.
Jesus vem a João para ser batizado. Apesar da relutância inicial de João, Jesus insiste, cumprindo toda a justiça. No batismo, o Espírito Santo desce sobre Jesus em forma de pomba, e a voz do Pai declara: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.
Este evento revela a Trindade e marca o início do ministério público de Jesus.
Versículos-Chave:
- “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (3:2) – O chamado central de João Batista.
- “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” (3:3) – O cumprimento da profecia sobre João.
- “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?” (3:7) – A condenação da hipocrisia religiosa.
- “Convém que cumpramos toda a justiça.” (3:15) – O propósito do batismo de Jesus.
- “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (3:17) – A afirmação divina da identidade de Jesus.
Promessa: Deus enviaria um precursor para preparar o caminho do Messias (3:3).
Mandamento: Arrepender-se e produzir frutos dignos de arrependimento (3:8).
O Cuidado e a Proteção de Deus
Deus demonstra, ao longo de Mateus 1, 2 e 3, um profundo zelo pelo bem-estar espiritual e emocional daqueles que confiam nEle.
Desde a genealogia e o nascimento de Jesus até Seu batismo e início do ministério, vemos como Deus guia, protege e fortalece Seus filhos em meio aos desafios da vida.
Deus Dirige e Conforta em Tempos de Incerteza: Mateus 1:20-21, Mateus 2:13
José enfrentou um dilema angustiante ao saber da gravidez de Maria, mas Deus enviou um anjo para tranquilizá-lo e guiá-lo. Assim também, quando Herodes planejou matar Jesus, Deus advertiu José em sonho para fugir para o Egito. Isso nos ensina que, em momentos de incerteza e medo, Deus nos orienta e acalma, revelando o caminho certo a seguir.
Deus Guarda e Protege Contra o Mal: Mateus 2:12, Mateus 2:22
Deus impediu os magos de retornarem a Herodes e avisou José para não se estabelecer em certas regiões, livrando Jesus de perigo. Da mesma forma, Deus nos protege de armadilhas e nos livra de situações que poderiam nos prejudicar espiritualmente e emocionalmente. Ele cuida de nós, mesmo quando não percebemos.
Deus Proporciona um Novo Começo: Mateus 3:1-2, Mateus 3:6
A mensagem de João Batista sobre arrependimento mostra que Deus deseja renovar e transformar corações. Ele não apenas aponta nossos erros, mas nos oferece graça e restauração. Quando nos voltamos para Deus, Ele renova nossa saúde espiritual e emocional, nos dando um novo começo.
Deus Nos Fortalece para o Chamado: Mateus 3:13-15, Mateus 3:17
O batismo de Jesus marcou o início de Seu ministério, acompanhado pela aprovação do Pai. Assim como Jesus foi fortalecido para cumprir Sua missão, Deus nos capacita para aquilo que Ele nos chamou a fazer. Sua presença nos assegura que não estamos sozinhos e que Ele está conosco em cada passo da jornada.
Deus Nos Dá Identidade e Segurança em Seu Amor: Mateus 3:16-17
Quando Jesus foi batizado, Deus declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Isso nos lembra que nossa identidade não está em nossos erros ou sucessos, mas no fato de que somos filhos amados de Deus. Saber que somos amados incondicionalmente por Ele fortalece nossa saúde emocional, trazendo paz e segurança.
O Pecado em Mateus 1–3
Incredulidade e Falta de Confiança em Deus
• Pecado: Em Mateus 1:19, José inicialmente não creu na explicação sobre a gravidez de Maria e pensou em abandoná-la secretamente. Essa incredulidade revela a dificuldade de confiar plenamente nos planos de Deus quando parecem ilógicos ou desafiadores.
• Consequências:
• José teria perdido a oportunidade de fazer parte do plano redentor de Deus caso tivesse seguido seu próprio entendimento (Provérbios 3:5-6).
• A dúvida pode levar à desobediência e impedir o cumprimento dos propósitos divinos.
• Fruto de Arrependimento: Confiar na soberania de Deus, mesmo quando os caminhos dEle parecem difíceis de compreender (Isaías 55:8-9). Como José, devemos aprender a obedecer à voz de Deus, mesmo em meio à incerteza (Mateus 1:24).
Ódio e Violência Contra a Verdade
• Pecado: Em Mateus 2:16, Herodes, ao perceber que havia sido enganado pelos magos, mandou matar todas as crianças de até dois anos em Belém. Esse ato de crueldade extrema reflete a dureza de um coração tomado pelo medo, orgulho e desejo de poder.
• Consequências:
• O massacre das crianças inocentes (Mateus 2:17-18) trouxe dor e luto, cumprindo a profecia de Jeremias sobre o choro de Raquel.
• Demonstrou como o coração endurecido pelo pecado rejeita a verdade e busca eliminá-la (João 3:19-20).
• Fruto de Arrependimento: Submeter-se à vontade de Deus e renunciar ao desejo de controlar tudo por medo ou orgulho (Tiago 4:10). O arrependimento envolve abandonar a resistência à verdade e permitir que Deus reine em nossas vidas (Colossenses 3:15).
Religiosidade Vazia e Hipocrisia
• Pecado: Em Mateus 3:7-8, João Batista repreende os fariseus e saduceus, chamando-os de “raça de víboras”, pois confiavam em sua linhagem e aparências religiosas em vez de um verdadeiro arrependimento. Esse pecado revela a hipocrisia de praticar rituais sem transformação genuína.
• Consequências:
• A falsa religiosidade endurece o coração, impedindo a verdadeira conversão e comunhão com Deus (Isaías 29:13).
• A confiança na aparência externa gera engano e separação da graça de Deus (Lucas 18:9-14).
• Fruto de Arrependimento: Produzir frutos dignos de arrependimento, demonstrando fé genuína através de atitudes transformadas (Mateus 3:8). Deus deseja um coração sincero e não apenas rituais vazios (Salmo 51:17).
Rejeição do Arrependimento
• Pecado: Em Mateus 3:9-10, João Batista adverte que muitos judeus confiavam na descendência de Abraão, sem reconhecer sua necessidade de arrependimento. Esse pecado é a recusa em admitir o próprio erro e depender da graça de Deus.
• Consequências:
• Quem não se arrepende está sujeito ao juízo divino, pois “toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo” (Mateus 3:10).
• O orgulho impede que as pessoas experimentem a transformação que Deus deseja operar (Provérbios 16:18).
• Fruto de Arrependimento: Humilhar-se diante de Deus e reconhecer que ninguém é salvo por méritos próprios, mas pela graça e misericórdia divina (Efésios 2:8-9).
Desobediência ao Chamado de Deus
• Pecado: Em Mateus 3:13-14, João Batista inicialmente relutou em batizar Jesus, pois não se sentia digno. Embora parecesse humildade, essa atitude revelava um medo de não estar preparado para cumprir o chamado de Deus.
• Consequências:
• A hesitação em obedecer pode atrasar ou impedir que experimentemos plenamente os propósitos divinos (Êxodo 4:10-12).
• A falta de confiança em Deus pode nos levar a negligenciar oportunidades de serviço e crescimento espiritual.
• Fruto de Arrependimento: Responder ao chamado de Deus com obediência e fé, confiando que Ele nos capacita para fazer Sua vontade (Filipenses 2:13). Devemos estar dispostos a seguir a direção divina, mesmo quando nos sentimos inadequados (Isaías 6:8).
Submersão
Contextualização Histórica e Cultural de Mateus 1–3
Autor e Data
O Evangelho de Mateus foi escrito por Mateus (também chamado Levi), um ex-cobrador de impostos que se tornou um dos doze apóstolos de Jesus. A tradição cristã primitiva atribui a autoria a ele, e há fortes indícios de que tenha sido originalmente destinado a uma audiência judaica.
Estima-se que o livro tenha sido escrito entre 50-70 d.C., antes da destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C., pois não há referência direta a esse evento. Mateus provavelmente escreveu a partir da Judeia ou Antioquia, uma cidade com grande comunidade judaica e cristã.
• Curiosidade: Mateus frequentemente cita o Antigo Testamento para demonstrar que Jesus é o cumprimento das profecias messiânicas. Ele usa mais de 60 referências diretas ao Antigo Testamento, mais do que qualquer outro Evangelho.
Cosmogonias e Tradições Judaicas: A Visão do Messias
Diferente das cosmogonias antigas que relatavam deuses distantes e caóticos, Mateus apresenta um Deus próximo, ativo na história e cumprindo Suas promessas.
A expectativa messiânica dos judeus da época era moldada pelas Escrituras e pelas tradições rabínicas:
- Messias como Rei e Libertador:
• Muitos judeus esperavam um Messias político que libertaria Israel do domínio romano (Salmo 2:6-9). Mateus, porém, mostra que Jesus veio primeiro como Servo Sofredor (Isaías 53).
- Genealogia e Linhagem Messiânica:
• Diferente dos mitos pagãos que associavam líderes a descendentes divinos e semideuses, Mateus apresenta a linhagem genealógica de Jesus de forma detalhada (Mateus 1:1-17), enfatizando sua conexão com Abraão e Davi.
- Cumprimento das Profecias:
• A narrativa do nascimento virginal (Mateus 1:23) alinha-se com Isaías 7:14, demonstrando que Jesus não é fruto do acaso, mas o cumprimento do plano divino.
• Curiosidade: Os Evangelhos apócrifos posteriores (como o Protoevangelho de Tiago) tentaram adicionar detalhes míticos ao nascimento de Jesus, mas Mateus mantém um tom histórico e profético, sem exageros fabulosos.
Estrutura Social e Contexto Cultural
Nos tempos de Jesus, a sociedade judaica era rigidamente dividida por classes, crenças religiosas e influências políticas.
- A Hierarquia Religiosa: • Fariseus: Guardavam rigorosamente a Lei e a tradição oral. • Saduceus: Sacerdotes e aristocratas, rejeitavam a ressurreição e tradições além da Torá. • Escribas: Especialistas na Lei, influentes na interpretação das Escrituras. • Zelotes: Grupo revolucionário que queria expulsar os romanos. • Essênios: Uma seita isolada que buscava pureza, possivelmente ligados aos Manuscritos do Mar Morto.
- Roma e o Domínio Político: • O Império Romano governava a Palestina através de reis-clientes, como Herodes, e procuradores romanos. • Os impostos eram pesados e cobrados por publicanos, como Mateus antes de seguir Jesus.
- Economia e Trabalho: • A economia era baseada na agricultura (trigo, cevada, vinhas, figueiras) e na pesca, especialmente no Mar da Galileia. • Os carpinteiros, como José, trabalhavam com madeira e pedra, essenciais para construções da época. • Curiosidade: Os magos que visitaram Jesus (Mateus 2:1-12) provavelmente eram astrônomos persas ou babilônicos, vindos de uma tradição que estudava sinais celestiais. Sua presença contrasta com a rejeição de Herodes e dos líderes judeus.
A Estrutura Literária de Mateus
Mateus organiza seu Evangelho em cinco grandes discursos, refletindo a estrutura do Pentateuco. Os três primeiros capítulos estabelecem o cenário para o ministério de Jesus:
- Genealogia e Nascimento (Mateus 1): Jesus é apresentado como o Messias legítimo, cumpridor das profecias.
- A Visita dos Magos e a Fuga para o Egito (Mateus 2): Mostra como a rejeição a Jesus começou ainda em sua infância.
- O Ministério de João Batista e o Batismo de Jesus (Mateus 3): Marca o início do ministério público de Cristo. • Curiosidade: Mateus é o único Evangelho que menciona a fuga da família de Jesus para o Egito, ecoando a história do Êxodo e Moisés.
Outras Curiosidades Relevantes
- O Significado dos Nomes:
• Jesus (Yeshua) significa “O Senhor é Salvação”.
• Emanuel significa “Deus conosco” (Mateus 1:23).
- Herodes, o Grande: • Foi um rei cruel, paranoico e ambicioso. Mandou matar vários membros de sua própria família. Sua matança dos inocentes (Mateus 2:16) é consistente com seu histórico.
- O Deserto e o Ministério de João Batista: • O deserto da Judeia, onde João pregava (Mateus 3:1), simboliza tanto um local de provação quanto de preparação espiritual, remetendo ao Êxodo.
- O Batismo e a Trindade: • O batismo de Jesus (Mateus 3:16-17) é um dos momentos mais claros onde a Trindade aparece: o Pai fala, o Filho é batizado e o Espírito desce em forma de pomba.
- A Vestimenta de João Batista: • João vestia roupas de pelo de camelo e comia gafanhotos e mel silvestre (Mateus 3:4), semelhante aos profetas do Antigo Testamento, especialmente Elias (2 Reis 1:8).
Exegese e Hermenêutica dos Versículos-Chave de Mateus 1
1. “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mateus 1:1)
A palavra grega para “genealogia” aqui é βίβλος γενέσεως (biblos geneseōs), literalmente “livro da origem” ou “registro do nascimento”.
Essa mesma expressão aparece em Gênesis 2:4 e 5:1 na Septuaginta, reforçando a ideia de uma nova criação em Cristo. Mateus inicia seu Evangelho demonstrando que Jesus cumpre as promessas feitas a Abraão (Gênesis 12:3) e a Davi (2 Samuel 7:12-16).
O termo “Cristo” (Χριστός, Christos), equivalente a “Messias” (מָשִׁיחַ, Mashiach), destaca Sua função como o Ungido de Deus. A estrutura da genealogia reforça a legitimidade messiânica de Jesus, conectando-O à linhagem real e ao pacto abraâmico (Gálatas 3:16).
2. “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mateus 1:21)
O nome “Jesus” (Ἰησοῦς, Iēsous) deriva do hebraico יֵשׁוּעַ (Yeshua), uma forma curta de יְהוֹשֻׁעַ (Yehoshua), que significa “O Senhor é salvação”.
O versículo esclarece a missão do Messias: Ele não veio para libertar Israel do domínio romano, mas para salvar Seu povo do pecado (Isaías 53:5; João 1:29).
A frase “seu povo” indica que essa salvação era primeiro para os judeus (Romanos 1:16), mas se expandiria para os gentios (Atos 10:43).
Esse versículo ecoa Salmo 130:8: “Ele remirá a Israel de todas as suas iniquidades”, mostrando que a missão de Cristo cumpria os anseios proféticos de redenção.
3. “E eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel.” (Mateus 1:23)
Mateus cita Isaías 7:14, onde a palavra hebraica עַלְמָה (‘almah) significa “jovem mulher”, mas no contexto indica virgindade.
O grego παρθένος (parthenos), usado na Septuaginta e por Mateus, enfatiza que Maria era realmente virgem. O nome “Emanuel” (Ἐμμανουήλ, Emmanouēl), que significa “Deus conosco”, não era um título pessoal, mas uma afirmação da natureza divina de Cristo (João 1:14; Colossenses 2:9).
Isso cumpre a promessa messiânica de que Deus estaria presente com Seu povo de maneira única (Ezequiel 37:27). A concepção virginal demonstra que a salvação vem de Deus e não da vontade humana (João 1:13).
4. “José… fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher.” (Mateus 1:24)
A obediência de José destaca sua fé e submissão à revelação divina.
O verbo grego ἐγερθεὶς (egerthēis, “levantando-se”) sugere uma ação imediata. Em contraste com a hesitação inicial (Mateus 1:19), sua decisão reflete a prontidão de obedecer, mesmo sob possível vergonha social.
O ato de “receber” Maria indica que ele assumiu legalmente a responsabilidade como marido, protegendo-a do repúdio público (Deuteronômio 22:23-24). José, um descendente de Davi, legitima Jesus como herdeiro do trono davídico (Isaías 9:6-7), mesmo sem ser seu pai biológico.
Esse versículo ecoa a fé de Abraão ao obedecer a Deus sem questionar (Gênesis 22:3).
5. “Mas não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de JESUS.” (Mateus 1:25)
A frase “não a conheceu” indica que José e Maria não tiveram relações conjugais até o nascimento de Jesus, confirmando a virgindade de Maria antes do parto.
O termo grego πρωτότοκος (prōtotokos, “primogênito”) não implica que Maria teve outros filhos, mas enfatiza a posição especial de Jesus (Colossenses 1:15). O nome “Jesus” é dado em obediência ao mandamento divino (Lucas 1:31), reafirmando Sua missão salvadora.
Esse versículo se alinha com Êxodo 13:2, onde Deus requer os primogênitos consagrados a Ele, apontando para o papel redentor de Cristo como o Cordeiro de Deus (1 Coríntios 5:7).
6 “Pois do Oriente viemos para adorá-lo.” (Mateus 2:2)
A palavra grega usada para “adorá-lo” é προσκυνῆσαι (proskynēsai), que significa literalmente “prostrar-se diante” e era utilizada tanto para reverência a reis quanto para adoração divina.
O fato de os magos (μάγοι, magoi), possivelmente astrônomos da Pérsia ou Babilônia, viajarem do Oriente para reconhecer Jesus como Rei evidencia que a revelação messiânica ultrapassa Israel (Isaías 60:3).
Eles seguiram uma estrela, possivelmente ligada à profecia de Números 24:17: “Uma estrela procederá de Jacó”. A presença deles contrasta com a rejeição de Herodes e dos líderes religiosos, cumprindo a profecia de que gentios buscariam o Messias (Salmo 72:10-11).
7. “E tu, Belém… de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.” (Mateus 2:6)
Mateus cita Miquéias 5:2, onde a palavra hebraica מֹשֵׁל (moshêl, “governante”) enfatiza a liderança messiânica.
O termo “apascentar” (ποιμανεῖ, poimanei) liga Jesus à figura do bom pastor (João 10:11). Belém (בית לחם, Bêit-Léchem, “Casa do Pão”) reforça o simbolismo de Jesus como o “pão da vida” (João 6:35).
A profecia destaca que, apesar de ser uma cidade pequena, Belém seria o local do nascimento do governante eterno, conectando Jesus à linhagem davídica (1 Samuel 16:1).
8. “Então Herodes, vendo que tinha sido enganado… irou-se muito.” (Mateus 2:16)
A ira de Herodes (ἐθυμώθη σφόδρα, ethymōthē sphodra, “ficou extremamente furioso”) reflete a resistência do mundo contra Cristo (João 1:11).
O verbo ἐθυμώθη está na voz passiva, indicando que a frustração de Herodes decorre do fato de não ter conseguido concretizar sua vontade. Sua reação violenta, ordenando o massacre dos inocentes, ecoa a tentativa do Faraó de exterminar os bebês hebreus (Êxodo 1:22), demonstrando a oposição satânica ao plano redentor de Deus (Apocalipse 12:4-5).
O sofrimento causado por Herodes foi profetizado em Jeremias 31:15, associando-se ao lamento de Raquel pela perda de seus filhos.
9. “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito.” (Mateus 2:13)
A ordem do anjo a José usa o verbo grego φεῦγε (pheuge, “fugir”), o mesmo usado para descrever aqueles que escapam de perigos mortais.
O Egito, frequentemente visto como um lugar de opressão para os israelitas, agora se torna refúgio para o Messias, cumprindo Oséias 11:1: “Do Egito chamei o meu filho”. Esse evento reflete o padrão bíblico de livramento divino, como o livramento de Moisés no Egito (Êxodo 2:10).
José age imediatamente, obedecendo à revelação de Deus sem hesitação (Salmo 32:8).
10. “E veio habitar numa cidade chamada Nazaré.” (Mateus 2:23)
A cidade de Nazaré não é mencionada no Antigo Testamento, mas o versículo afirma que Jesus “seria chamado nazareno”, cumprindo as profecias.
O termo Ναζωραίος (Nazoraios) pode estar relacionado à palavra hebraica נֵצֶר (nêtser, “rebento”), como em Isaías 11:1: “Do tronco de Jessé sairá um rebento”. Nazaré era uma cidade desprezada (João 1:46), o que se alinha com a profecia de que o Messias seria rejeitado (Isaías 53:3).
Esse local humilde enfatiza que Jesus veio para os marginalizados, cumprindo a promessa de que Deus exalta os humildes (Lucas 1:52).
11. “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 3:2)
A palavra grega para “arrependei-vos” é μετανοεῖτε (metanoeite), que significa uma mudança de mente, coração e direção de vida.
Esse arrependimento não é meramente emocional, mas envolve uma transformação real (Atos 2:38). João Batista anuncia que o “Reino dos Céus” (βασιλεία τῶν οὐρανῶν, basileia tōn ouranōn) está próximo, uma expressão característica de Mateus que enfatiza o domínio de Deus sobre a criação.
A chegada do reino implica juízo para os rebeldes e salvação para os que se submetem a Deus (Daniel 2:44). Esse chamado ressoa com Isaías 55:7: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos”.
12. “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” (Mateus 3:3)
Mateus cita Isaías 40:3, onde a palavra hebraica דֶּרֶךְ (derek, “caminho”) simboliza a disposição do coração para receber a presença divina.
A palavra grega εὐθύνατε (euthynate, “endireitai”) implica corrigir práticas erradas e alinhar a vida com os padrões de Deus. Assim como as estradas eram preparadas para a chegada de um rei terreno, João Batista chama o povo a remover os obstáculos espirituais para a vinda do Messias.
Esse conceito se conecta com Malaquias 3:1, onde um mensageiro precede o Senhor. O convite de João é um chamado à santidade e ao despertar espiritual (Hebreus 12:13).
13. “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?” (Mateus 3:7)
A expressão “raça de víboras” (γεννήματα ἐχιδνῶν, gennēmata echidnōn) enfatiza a hipocrisia dos fariseus e saduceus, comparando-os a serpentes venenosas.
No contexto judaico, a serpente simboliza engano e oposição a Deus (Gênesis 3:1). João Batista denuncia líderes religiosos que aparentam piedade, mas cujos corações permanecem corruptos (Mateus 23:27). A “ira vindoura” refere-se ao juízo escatológico de Deus (Sofonias 1:14-15), destacando que meros rituais externos não garantem salvação (Romanos 2:5).
Essa condenação ressoa com Isaías 29:13: “Este povo se aproxima de mim com sua boca, mas seu coração está longe de mim”.
14. “Convém que cumpramos toda a justiça.” (Mateus 3:15)
A palavra grega para “convém” é πρέπον ἐστιν (prepon estin), indicando algo apropriado e necessário no plano de Deus.
“Cumprir toda a justiça” (πληρῶσαι πᾶσαν δικαιοσύνην, plērōsai pasan dikaiosynēn) refere-se à submissão de Jesus à vontade do Pai. Embora Jesus não precisasse de arrependimento, Seu batismo validava a mensagem de João e antecipava Sua identificação com os pecadores (2 Coríntios 5:21).
Assim como os sacerdotes levíticos eram lavados antes de iniciarem seu ministério (Êxodo 29:4), Jesus passa pelo batismo antes de iniciar o Seu. Esse ato também alude ao batismo de sangue que Ele sofreria na cruz (Lucas 12:50).
15. “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mateus 3:17)
A voz do Pai ecoa Salmo 2:7: “Tu és meu Filho; hoje te gerei”, e Isaías 42:1: “Eis aqui o meu servo, a quem sustento, o meu eleito, em quem a minha alma se compraz”.
A palavra grega ἀγαπητός (agapētos, “amado”) expressa um amor único e especial, destacando a relação eterna entre o Pai e o Filho. Esse versículo revela a Trindade: o Pai fala, o Espírito desce como pomba e o Filho é batizado. A declaração divina autentica a missão de Jesus como o Messias prometido (João 3:16).
Esse momento se conecta com Gênesis 22:2, onde Deus ordena que Abraão ofereça seu “filho amado”, prefigurando o sacrifício de Cristo.
Termos-Chave
Os primeiros capítulos do Evangelho de Mateus contêm palavras e expressões ricas em significado, algumas das quais podem ser desafiadoras para o leitor moderno.
Abaixo estão explicações de termos-chave que ajudam a entender o texto em maior profundidade.
Magos (Μάγοι – Magoi)
• Significado: Sábios, astrônomos ou sacerdotes orientais.
• Explicação: Os magos mencionados em Mateus 2:1 eram provavelmente astrônomos persas ou babilônicos que estudavam os astros e possuíam conhecimento profético. Na cultura oriental, magos também tinham funções sacerdotais e interpretavam sonhos (Daniel 2:2). O termo magoi aparece no Antigo Testamento Grego para descrever conselheiros reais. A visita desses gentios a Jesus confirma a profecia de Isaías 60:3: “As nações virão à tua luz, e os reis ao resplendor da tua aurora”.
Herodes, o Grande (Ἡρῴδης – Hērōidēs)
• Significado: Nome de uma dinastia de governantes idumeus sobre a Judeia sob domínio romano.
• Explicação: Herodes, mencionado em Mateus 2, foi um rei imposto por Roma para governar a Judeia. Ele era conhecido por sua paranoia e crueldade, ordenando a morte de vários membros de sua própria família. Seu massacre dos inocentes em Mateus 2:16 reflete sua tentativa de eliminar qualquer ameaça ao trono. Herodes reconstruiu o Templo de Jerusalém, mas não era aceito pelos judeus como um rei legítimo, pois era idumeu, descendente de Esaú. Sua reação à notícia do nascimento de Jesus cumpre a oposição histórica entre os descendentes de Jacó e Esaú (Gênesis 25:23).
Reino dos Céus (βασιλεία τῶν οὐρανῶν – Basileia tōn ouranōn)
• Significado: O governo de Deus sobre todas as coisas.
• Explicação: Mateus usa a expressão “Reino dos Céus” em vez de “Reino de Deus” (como em Marcos e Lucas), possivelmente para respeitar a sensibilidade judaica ao nome divino. Esse termo não se refere apenas ao céu após a morte, mas ao reinado de Deus na terra por meio de Cristo (Daniel 2:44). João Batista anuncia sua chegada como uma realidade iminente (Mateus 3:2), e Jesus ensina sobre sua manifestação progressiva (Lucas 17:21).
Baptizo (βαπτίζω – baptizō)
• Significado: Mergulhar, imergir ou lavar ritualmente.
• Explicação: O batismo de João Batista (Mateus 3:6) não era um mero rito de purificação judaico, mas um sinal público de arrependimento. O verbo baptizō implica uma transformação completa, assim como a imersão na água simboliza morte para o pecado e ressurreição para uma nova vida (Romanos 6:4). Jesus, ao ser batizado, não precisava de arrependimento, mas identificava-se com os pecadores e inaugurava Seu ministério messiânico.
Filho de Davi (Υἱὸς Δαυὶδ – Huios Dauid)
• Significado: Título messiânico que indica a linhagem real de Jesus.
• Explicação: Mateus 1:1 apresenta Jesus como “Filho de Davi”, um termo crucial para a identidade messiânica. Deus prometeu a Davi um descendente cujo reinado seria eterno (2 Samuel 7:12-16). Os judeus esperavam um rei guerreiro que libertasse Israel, mas Jesus veio como um Salvador sofredor (Isaías 53:3-5). Esse título é repetido em curas e exorcismos, destacando a autoridade de Cristo (Mateus 9:27, 15:22).
Emanuel (Ἐμμανουήλ – Emmanouēl)
• Significado: “Deus conosco”.
• Explicação: O nome Emanuel, citado em Mateus 1:23 e retirado de Isaías 7:14, enfatiza a presença de Deus entre os homens. No Antigo Testamento, Deus prometeu habitar com Seu povo (Êxodo 29:45-46). Jesus cumpre essa promessa ao tornar-se carne (João 1:14) e, após Sua ressurreição, garante Sua presença contínua por meio do Espírito Santo (Mateus 28:20).
Voz do que Clama no Deserto (φωνὴ βοῶντος ἐν τῇ ἐρήμῳ – phōnē boōntos en tē erēmō)
• Significado: Um mensageiro que prepara o caminho para Deus.
• Explicação: Mateus 3:3 cita Isaías 40:3, descrevendo João Batista como a “voz” que anuncia a chegada do Messias. No contexto judaico, o deserto simbolizava tanto o castigo (Números 14:33) quanto a preparação para um novo começo (Oséias 2:14). João conclama o povo a abandonar o pecado e preparar-se para Cristo, ecoando a missão de Elias (Malaquias 4:5).
Raça de Víboras (γεννήματα ἐχιδνῶν – gennēmata echidnōn)
• Significado: Descendência de serpentes, metáfora para hipocrisia e maldade.
• Explicação: João Batista usa essa expressão em Mateus 3:7 para descrever os fariseus e saduceus. No contexto bíblico, a serpente simboliza o engano de Satanás (Gênesis 3:1). Jesus repete essa acusação contra os líderes religiosos (Mateus 23:33), indicando sua corrupção espiritual e resistência ao evangelho. Esse termo reforça que não basta ter linhagem judaica; é necessário um coração transformado (Romanos 2:28-29).
Justiça (δικαιοσύνη – dikaiosynē)
• Significado: Retidão diante de Deus; conformidade com Sua vontade.
• Explicação: Em Mateus 3:15, Jesus diz que Seu batismo cumpre “toda a justiça”. No pensamento judaico, dikaiosynē não se limita a atos morais, mas envolve um relacionamento correto com Deus. Em Romanos 3:22, Paulo explica que essa justiça vem pela fé em Cristo. O batismo de Jesus simboliza Sua identificação com os pecadores e a necessidade de cumprir o plano divino.
Céus se Abriram (ἠνεῴχθησαν οἱ οὐρανοί – ēneōchthēsan hoi ouranoi)
• Significado: Uma manifestação da presença e aprovação divina.
• Explicação: Mateus 3:16 descreve os céus se abrindo durante o batismo de Jesus. Esse fenômeno simboliza a restauração da comunhão entre Deus e a humanidade, rompida pelo pecado (Isaías 64:1). A descida do Espírito Santo em forma de pomba ecoa a pomba de Noé (Gênesis 8:11), indicando um novo começo para a humanidade por meio de Cristo.
Profundidade
Doutrinas-Chave em Mateus 1–3
Os três primeiros capítulos do Evangelho de Mateus estabelecem fundamentos teológicos essenciais para a fé cristã.
Além de narrar eventos históricos, esses capítulos apresentam doutrinas-chave que moldam a compreensão do papel de Jesus como o Messias prometido, a soberania de Deus na história da redenção e a natureza do Reino de Deus.
Doutrina da Encarnação de Cristo
• Base Bíblica: Mateus 1:23 – “E eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel.”
• Perspectiva Teológica: A encarnação de Cristo ensina que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem (João 1:14; Filipenses 2:6-7). O cumprimento da profecia de Isaías 7:14 reforça que Ele é o Emanuel (“Deus conosco”), um conceito fundamental na teologia cristã. A concepção virginal confirma que Sua natureza humana não herdou o pecado de Adão, permitindo que Ele fosse o sacrifício perfeito (Hebreus 4:15). Essa doutrina é central para a soteriologia, pois sem a encarnação, a expiação vicária seria impossível (Colossenses 2:9).
Doutrina da Soberania de Deus na História
• Base Bíblica: Mateus 2:6 – “E tu, Belém… de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.”
• Perspectiva Teológica: O nascimento de Jesus em Belém cumpre a profecia de Miquéias 5:2, demonstrando que Deus dirige a história para cumprir Seu propósito redentor. Mesmo a oposição de Herodes e a fuga para o Egito estavam dentro do plano soberano de Deus (Mateus 2:13-15). A soberania divina na preservação do Messias reflete o conceito bíblico de que Deus governa sobre as nações e usa até eventos adversos para cumprir Sua vontade (Isaías 46:10; Efésios 1:11).
Doutrina da Justificação e Arrependimento
• Base Bíblica: Mateus 3:2 – “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.”
• Perspectiva Teológica: João Batista anuncia a necessidade do arrependimento (μετάνοια, metanoia), que significa uma transformação completa de mente e vida. O arrependimento é a resposta humana à oferta da graça de Deus, preparando o coração para receber a justificação (Atos 2:38). Esse ensino está alinhado com a doutrina da conversão, que envolve fé e arrependimento como requisitos para a salvação (Marcos 1:15; Lucas 13:3). A justificação pela fé, mais tarde ensinada por Paulo, encontra aqui sua base na pregação de João Batista e na inauguração do Reino de Deus (Romanos 3:24).
Doutrina da Filiação Divina de Cristo
• Base Bíblica: Mateus 3:17 – “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
• Perspectiva Teológica: No batismo de Jesus, a voz do Pai declara Sua filiação divina. O termo “Filho de Deus” confirma Sua identidade messiânica (Salmo 2:7) e Sua relação única com o Pai (João 5:18). Esse evento revela a Trindade, com o Espírito Santo descendo sobre Jesus e o Pai declarando Sua aprovação. A filiação divina de Cristo é essencial para entender Sua autoridade, obediência e mediação entre Deus e os homens (Hebreus 1:1-3; 1 Timóteo 2:5).
Doutrina do Reino de Deus
• Base Bíblica: Mateus 3:2 – “É chegado o reino dos céus.”
• Perspectiva Teológica: O “Reino dos Céus”, expressão usada por Mateus, é equivalente ao “Reino de Deus” nos outros Evangelhos. Ele se refere ao governo soberano de Deus inaugurado com a vinda de Cristo, mas que terá seu cumprimento final na consumação dos tempos (Mateus 6:10; Apocalipse 11:15). Essa doutrina é central para a mensagem de Jesus, mostrando que Ele veio estabelecer Seu domínio sobre o pecado, Satanás e a morte (Lucas 17:20-21; 1 Coríntios 15:24-28).
Bênçãos e Promessas em Mateus 1–3
Os primeiros capítulos do Evangelho de Mateus revelam as primeiras manifestações das bênçãos e promessas de Deus na vinda do Messias.
Cada evento narrado carrega verdades espirituais profundas sobre a fidelidade de Deus em cumprir Sua Palavra e sobre as condições para receber Suas bênçãos.
Essas promessas não são apenas históricas, mas atemporais, aplicáveis à vida daqueles que confiam em Cristo e se submetem ao Seu Reino.
A Promessa da Salvação por meio de Jesus (Mateus 1:21)
• Texto: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”
• Bênção: O perdão dos pecados e a salvação eterna.
• Condição: A salvação é oferecida gratuitamente, mas só pode ser recebida por meio da fé em Jesus (João 3:16). Aqueles que rejeitam a Cristo permanecem sob condenação (João 3:18). A graça é incondicional em sua oferta, mas requer uma resposta de arrependimento e entrega a Cristo para ser efetiva (Atos 2:38).
A Presença de Deus Conosco (Mateus 1:23)
• Texto: “E eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel.”
• Bênção: Deus habitando entre Seu povo, trazendo consolo, direção e segurança.
• Condição: A presença de Deus é uma promessa para aqueles que vivem em obediência e comunhão com Ele (João 14:23). O distanciamento de Deus acontece quando o pecado e a incredulidade interrompem essa relação (Isaías 59:2), mas a restauração é possível pelo arrependimento (Tiago 4:8).
A Proteção Sob a Soberania de Deus (Mateus 2:13-15)
• Texto: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito.”
• Bênção: Deus guia e protege aqueles que cumprem Seu propósito, guardando-os do mal.
• Condição: A proteção divina está atrelada à obediência. José obedeceu imediatamente à instrução divina e, por isso, a família de Jesus foi preservada. Deus age em favor daqueles que confiam nEle e seguem Sua direção (Salmo 91:1-2). A negligência em obedecer pode resultar em vulnerabilidade espiritual (Provérbios 3:5-6).
A Abertura do Reino dos Céus aos Arrependidos (Mateus 3:2)
• Texto: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.”
• Bênção: A entrada no Reino de Deus e a participação em Suas bênçãos espirituais.
• Condição: O arrependimento genuíno é necessário para experimentar essa bênção (Lucas 13:3). Sem mudança de vida e submissão a Cristo, não há acesso ao Reino (Mateus 7:21). A salvação é um dom gratuito, mas requer transformação (Romanos 12:2).
A Plena Aprovação de Deus sobre Seus Filhos (Mateus 3:17)
• Texto: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
• Bênção: O prazer e a aceitação de Deus sobre aqueles que pertencem a Ele.
• Condição: Assim como Jesus cumpriu toda a justiça (Mateus 3:15), os crentes são chamados a viver em obediência e santidade. A intimidade com Deus está disponível para aqueles que vivem segundo Sua vontade (Hebreus 12:14). A promessa da filiação divina é garantida para aqueles que creem e seguem a Cristo (João 1:12).
Desafios Atuais para os Mandamentos de Mateus 1–3
Mateus 1–3 apresenta mandamentos fundamentais que refletem a vontade de Deus para a humanidade.
Embora esses mandamentos tenham sido dados em um contexto histórico específico, eles enfrentam desafios significativos para serem aplicados na sociedade contemporânea.
Aqui exploramos os mandamentos principais desses capítulos, os desafios para sua aplicação nos dias de hoje e como podemos enfrentá-los.
Mandamento: Aceitar e Submeter-se à Vontade de Deus (Mateus 1:20-24)
• Texto: “José… fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher.”
• Desafios Atuais:
• Ceticismo e Racionalismo: A sociedade moderna frequentemente rejeita a ideia de revelação divina e sobrenatural, priorizando explicações científicas e filosóficas.
• Autonomia e Individualismo: Muitos evitam submissão à vontade de Deus porque querem manter total controle sobre suas vidas.
• Pressão Social: Decisões baseadas na fé podem ser mal interpretadas, resultando em críticas e ostracismo.
• Respostas Teológicas: A fé exige confiança na soberania de Deus, mesmo quando Sua vontade parece contrária à lógica humana (Provérbios 3:5-6). José foi um exemplo de obediência imediata, e somos chamados a seguir esse modelo, sabendo que Deus trabalha para o bem daqueles que O amam (Romanos 8:28).
Mandamento: Adorar Somente a Deus (Mateus 2:2, 11)
• Texto: “Pois do Oriente viemos para adorá-lo.”
• Desafios Atuais:
• Materialismo e Consumismo: O desejo por bens materiais muitas vezes substitui a devoção genuína a Deus.
• Relativismo Religioso: A crença de que todas as religiões são iguais enfraquece a adoração exclusiva a Cristo.
• Falta de Tempo: A vida acelerada e as distrações digitais reduzem a prioridade da adoração.
• Respostas Teológicas: A verdadeira adoração exige reconhecer a supremacia de Cristo (Filipenses 2:9-11). Os magos, vindos de uma cultura pagã, demonstraram que adoração genuína transcende barreiras culturais. Devemos cultivar uma espiritualidade centrada em Cristo e resistir à idolatria moderna (1 João 5:21).
Mandamento: Arrepender-se para Entrar no Reino dos Céus (Mateus 3:2)
• Texto: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.”
• Desafios Atuais:
• Relativismo Moral: A rejeição da ideia de pecado leva muitas pessoas a não verem necessidade de arrependimento.
• Orgulho e Autossuficiência: Muitos não querem admitir erros ou mudar de vida.
• Falsas Doutrinas: Algumas teologias modernas minimizam a necessidade de arrependimento, focando apenas no amor e na graça.
• Respostas Teológicas: O arrependimento é essencial para a salvação (Atos 3:19). João Batista enfatizou a necessidade de transformação de vida como evidência de fé verdadeira (Mateus 3:8). Devemos pregar o evangelho completo, incluindo a necessidade de renúncia ao pecado (Lucas 24:47).
Mandamento: Produzir Frutos Dignos de Arrependimento (Mateus 3:8)
• Texto: “Produzi frutos dignos de arrependimento.”
• Desafios Atuais:
• Hipocrisia Religiosa: Muitos professam fé, mas não demonstram transformação real.
• Superficialidade Espiritual: O evangelho tem sido reduzido a experiências emocionais sem compromisso real com mudança de vida.
• Influência da Cultura Secular: A cultura incentiva prazeres momentâneos em vez de uma vida de santidade.
• Respostas Teológicas: O verdadeiro cristão é conhecido por seus frutos (Mateus 7:16). O arrependimento deve levar a uma vida que reflita os valores do Reino (Gálatas 5:22-23). Devemos ensinar que a graça transforma o caráter e não apenas cobre pecados (Tito 2:11-12).
Mandamento: Cumprir Toda a Justiça (Mateus 3:15)
• Texto: “Convém que cumpramos toda a justiça.”
• Desafios Atuais:
• Injustiça Social: A desigualdade e a corrupção dificultam a prática da justiça.
• Legalismo vs. Graça: Alguns reduzem a justiça a regras externas, enquanto outros negligenciam a santidade em nome da liberdade.
• Medo da Rejeição: Agir corretamente pode trazer perseguição e oposição.
• Respostas Teológicas: A justiça de Deus se manifesta na vida daqueles que seguem a Cristo (Miquéias 6:8). Jesus demonstrou obediência perfeita, servindo como modelo para nós. Devemos buscar a justiça com humildade, sabendo que somos justificados pela fé, mas chamados a viver de forma santa (Romanos 3:22; Efésios 2:10).
Desafio, Conclusão e Até Amanhã
Concluímos nossa reflexão de hoje reconhecendo que Mateus 1, 2 e 3 não são apenas registros biográficos do início da vida de Jesus, mas fundamentos do evangelho e chaves para entendermos o cumprimento das promessas de Deus.
Esses capítulos revelam a soberania divina na história, a missão redentora de Cristo e o chamado ao arrependimento e santidade. Vemos Deus protegendo Seu Filho, usando até mesmo perseguições para cumprir Sua vontade, e João Batista preparando o caminho para o Messias.
Diante dessas verdades, o nosso desafio é viver como cidadãos do Reino dos Céus, preparando o nosso coração para Cristo e refletindo Sua glória em um mundo que resiste à verdade.
Abaixo, algumas perguntas finais para motivar sua prática diária:
1. Estou pronto para me submeter à vontade de Deus?
• Assim como José obedeceu sem hesitar (Mateus 1:24), reflita se há algo que Deus está pedindo e você tem resistido.
• Quais mudanças você precisa fazer para viver pela fé e não pelo medo?
2. Tenho reconhecido Jesus como meu Rei?
• Os magos vieram de longe para adorar a Cristo (Mateus 2:2), enquanto os líderes religiosos ignoraram Seu nascimento.
• Como sua vida demonstra que Cristo é sua prioridade suprema?
3. Meu arrependimento tem sido genuíno?
• João Batista chamou o povo a produzir frutos dignos de arrependimento (Mateus 3:8).
• Em quais áreas você precisa buscar transformação real, e não apenas remorso superficial?
4. Como posso preparar o caminho para Jesus na minha vida e na dos outros?
• João Batista preparou o caminho para Cristo (Mateus 3:3).
• Como você pode influenciar sua família, amigos e colegas para que conheçam e experimentem o Reino de Deus?
5. Tenho certeza da minha identidade como filho(a) de Deus?
• No batismo de Jesus, Deus declarou: “Este é o meu Filho amado” (Mateus 3:17).
• Você vive com a segurança de que é amado por Deus, ou tem buscado aprovação em outras fontes?
Que o Espírito Santo o(a) guie nesta caminhada, aprofundando seu entendimento da Palavra, fortalecendo sua fé e moldando sua vida conforme o chamado divino.
Amanhã seguimos para os próximos capítulos, avançando no Evangelho de Mateus e descobrindo ainda mais sobre o ensino e a missão de Cristo.
Precisa de ajuda? Não esqueça de perguntar no Whatsapp.
Fique na paz.
Fábio Picco